“Museu
do Peixe Seco”
A CDU - Nazaré tem
pautado a sua acção e intervenção ao longo dos tempos pela defesa intransigente
da valorização do trabalho, dos trabalhadores, da produção nacional e da
promoção das economias e das culturas locais. Tem-no feito, não de forma
demagógica e por isso de fácil aceitação geral, mas sim, contornando a tentação
ao populismo e tentando construir novas consciências, apelando à organização do
mundo do trabalho, ao respeito pelas relações laborais como forma de construção
de uma sociedade mais justa. É um percurso mais complexo, mas do qual não
abdicamos. Não defendendo políticas assistencialistas, paternalismos bacocos,
defendendo sim a emancipação das pessoas pelo trabalho com direitos, pela
cultura, pela educação e por condições sociais que lhes confiram independência
e dignidade para que possam viver de cabeça levantada e nunca com a mão
estendida.
Relativamente à “seca do
peixe”, os programas eleitorais da CDU sempre relevaram o potencial daquele activo.
Aliás, a primeira mostra gastronómica com base no “carapau seco” resultou de
uma proposta de elementos da CDU, apresentada à ACISN e CMN em 2009.
Como é sabido, a CMN
investiu recentemente mais de 157 mil Euros, - desconhecendo nós ainda o custo
do projectista -, num denominado “Museu do Peixe Seco”, com o objectivo de
promover a cultura local, um produto específico, dinamização económica, criação
de emprego, melhorar as condições dos agentes que se dedicam à “árdua” tarefa
de preparar, secar, recolher e vender peixe seco.
Pois bem, no entender da
CDU, não conseguiu nem conseguirá atingir nenhum desses objectivos, bem pelo
contrário:
·
Este projecto tornou-se mais uma aberração, a acrescentar a outras,
com um impacto visual tremendo que estão a tornar o areal da Nazaré numa
“feira” sem organização nem ordenamento minimamente racional;
·
A desmesurada dimensão do equipamento afere-se também pela
insuficiente taxa de ocupação. Pela sua fulcral importância, importa questionar
onde estão os locais para a preparação e tratamento do pescado antes da seca?
Não deveria ser essa a primeira situação a resolver?
· Ganhando aquela dimensão, os agentes ficam expostos desnecessariamente
a fiscalizações ao abrigo da inspecção das actividades económicas, pois o
negócio ganha outra visibilidade que nem sempre tem relação directa com o
volume realizado;
·
As pessoas que ali trabalham foram alertadas para tais riscos? Que
tipo de economia pretende a CMN? É este empreendedorismo sem base de apoio
social que quer promover? É isto o concelho empreendedor?
·
Foi explicado às pessoas que existem formas alternativas de
comercializar o seu produto com a segurança que se exige, por exemplo,
organizando-se em formato Cooperativo tal como na ilha de S. Jorge, nos Açores,
onde toneladas de peixe seco são vendidas cumprindo todos os requisitos? Aliás,
os elementos da CDU propuseram essa solução a alguns destes operadores, que
inclusive ganharam apoios à constituição de Cooperativas por parte da
Cooperativa António Sérgio.
·
Como sabemos, as secas de bacalhau ao ar livre, designadamente nos
distritos de Aveiro e margem sul do Tejo, foram proibidas e encerraram, sendo
que, todo o peixe para consumo humano é agora seco em estufas. Não será este o
destino para o projecto recentemente inaugurado pela CMN?
·
Museu? Quem é o seu director? Chama-se museu porque sim…, ou cumpre
todos os requisitos para assumir essa categoria?
·
Intervir sobre as dinâmicas socioculturais sem as alterar
significativamente não é para todos. O contrário disso mesmo é o que
verificamos com esta desadequada opção da CMN. O que verificamos é a
artificialização postiça de uma genuinidade que se perderá.
·
Investe-se um montante desta natureza apenas porque o projecto se
situa na primeira linha da sede do concelho da Nazaré? É a montra e tudo tem
que passar por ali. O resto é conversa para encher balões e sem substrato que a
sustente.
· Porque é que em áreas em que a sua viabilidade económica é
marcadamente comprovada, que geram, apesar de todas as limitações, centenas de
postos de trabalho e vários milhões de euros na produção, transformação e
comercialização, como nos casos da Pesca e Agricultura, a CMN nunca teve
capacidade de gizar um projecto cabal que projecte estas dimensões da nossa
economia? Será por se situarem em espaços confinados, com pouca visibilidade. O
que se passa no Porto da Nazaré (exceptuando o surf) e nos campos do Valado ou
da Cela, não é atractivo para o Facebook ou para a imprensa local ou nacional,
logo, não justifica um grande envolvimento da CMN.
Também nesta matéria, os
erros e as suas consequências poderiam ser evitados se o governo municipal
tivesse essa inalienável característica de saber ouvir os parceiros sociais e
as forças vivas locais com a humildade característica dos grandes governantes.
Infelizmente não é isso que temos. E quanto maior for o domínio deste executivo
à frente dos destinos deste concelho piores vão ser as consequências para todos
os munícipes.
Neste início de novo ano,
aproveitamos para desejar a todos os munícipes do nosso concelho um ano com muita
saúde, trabalho e paz.
Nazaré,
01 Janeiro de 2017
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