11 de outubro de 2012

Declaração de Voto da CDU na Assembleia Municipal de 03 de Outubro.


Aconteceu no passado dia 3 de Outubro uma reunião da Assembleia Municipal da Nazaré. Essa reunião, serviu para dar a conhecer aos deputados municipais uma proposta do executivo municipal sobre a sua intenção de concorrer a mais um empréstimo, este através do governo, no valor de mais de 33 milhões de euros. A CDU, por sentir que o que ali era proposto iria no futuro hipotecar o desenvolvimento da nossa terra, bem como criar mais dificuldades às famílias e aos comerciantes locais não podia votar de outra maneira que não fosse contra a dita proposta, apresentando a seguinte declaração de voto:

 DECLARAÇÃO DE VOTO

            A CDU, representada pelo seu deputado eleito, vota contra neste ponto da ordem de trabalhos, “Adesão e Candidatura ao Programa de Apoio à Economia Local“, pelo seguinte:

            O que acabaram agora de aprovar não foi um programa de apoio à economia local.    O que acabaram agora de aprovar foi, isso sim, uma machadada fortíssima na economia local, por obra das más políticas do engenheiro Jorge Barroso e dos elencos executivos por ele escolhidos, ou comprados, ao longo dos seus mais de 20 anos de governação autárquica na nossa terra.
            Durante todos esses anos de devaneios, a tudo se permitiu. Promessas de grandes obras que nunca concretizou. E as poucas que nos deixa estão por pagar! Razão pela qual se hipoteca agora o futuro desta terra e dos seus habitantes com este designado “programa de apoio”. Apoio a quê ou a quem?
            Todos os munícipes do concelho se vão lembrar, durante muitos anos, do Eng. Jorge Barroso. Mas, infelizmente   , não será pelas melhores razões! Os meus netos, que ainda não estão cá, irão crescer, casar e ter filhos, e esses, irão ainda ouvir falar no eng. Jorge Barroso que lhes vendeu a sua água, e por isso eles a pagam cada vez mais cara. Irão lembrar-se do eng. Jorge Barroso e deste aqui chamado “programa de apoio”, quando nessa altura estiverem ainda a pagar o IMI às taxas mais elevadas do país. Ou de não terem nenhum benefício no IRS. De terem também uma derrama pela taxa máxima. De pagarem um valor estupidamente elevado de taxas e tarifas de Resíduos Sólidos Urbanos. De não compreenderem como é possível pagar-se cem por cento da água consumida na factura do Saneamento, e das taxas e tarifas serem tão altas também neste serviço.

            Com estes programas de apoio, valia mais não haver apoio nenhum! 

            A CDU, não quis participar na discussão deste ponto, por entender não ser necessária a discussão, na medida em que os srs, deputados da maioria e mais os que habitualmente votam a favor, sabem e estão sempre totalmente esclarecidos pelo sr. presidente da Câmara de todos os assuntos que vêm a esta assembleia. Não precisam por isso de esclarecer nada! Não estamos em condições de debater com tão informados deputados, pois entendemos que eles têm informação privilegiada, coisa que a nós não chega, e a que nos chega, nem nos é por vezes facultada nas devidas condições de leitura.

             Por tudo isso, e ciente de que os srs. deputados ao aprovarem as propostas do executivo municipal, estão conscientes das suas responsabilidades, quanto aos aumentos que irão infligir aos cidadãos comuns, às famílias, comerciantes e empresários deste concelho, durante pelo menos, os próximos 20 anos nomeadamente no que diz respeito a:

            Aplicação da taxa máxima de comparticipação no IRS. Referimos que é a única medida que sempre defendemos e poderíamos aprovar. No entanto, com este programa, lá se vai a tão badalada história por parte do executivo municipal do benefício aos munícipes, bem como a do aumento de fixação de novos contribuintes por cá. Só enganos!

            O Município da Nazaré terá que criar a Derrama para todas as empresas, incluindo as PME, maioritárias no concelho, e terá que o fazer fixando na taxa máxima de 1,5%, esse imposto. Isto, claro, fora os habituais impostos que as empresas já pagam.

            O Município terá também que fixar o IMI nas taxas máximas legais a vigorar no ano do contrato a todos os prédios do concelho. Mais uma benfeitoria em todos os prédios do concelho, principalmente nos devolutos, pois percebemos as dificuldades dos proprietários em os recuperar convenientemente, por falta de verba.

          Reduzir a despesa de pessoal. Não renovação de contractos a termo e redução para o mínimo indispensável de colaborações de avençados. – Prevêem-se mais despedimentos de funcionários municipais! Lembramos também que ainda na passada 6ª. feira os srs deputados aprovaram na AM mais uns quantos contractos de colaboração de avençados, que, com certeza, não serão totalmente aceites. Lembramos que só nestes contractos de avenças o município gastou, ao longo dos anos, milhões de euros.

         Manter sobre apertado controle a despesa associada à aquisição de bens e serviços (prevê-se uma redução destes custos de 9% em 2012 e uma redução de 4% em 2013, face a 2011);

    Renegociar todos os contratos-programa com o Ministério da Educação e seus Organismos;

     Fiscalizar activamente todos os aspectos geradores de receita. Por exemplo: acréscimo na percentagem de receita originada por “coimas e penalidades”. – Aqui está mais uma benfeitoria para os bolsos dos cidadãos. Mais coimas!

     Alienar património não essencial e concessionar espaços com potencial para rentabilização, prevendo-se a alienação de património em 2013 e 2014. Salienta-se ainda que se prevê a concessão do estacionamento na vila da Nazaré.

            Limitar algumas actividades municipais planeadas; - Resta saber quais!

      Renegociar todos os contratos-programa com o Ministério da Educação e seus Organismos de forma a ser possível diminuir o aumento dos últimos anos registado em despesas com a Educação por via da transferência de competências daqueles Organismos para o Município (estima-se um resultado negativo de mais de 1 milhão de Euros/ano assumido pelo Município). - Outra boa opção!

         Condicionar a despesa de investimento até ao valor global da receita de capital do Fundo de Equilíbrio Financeiro. – Paralisia total do desenvolvimento da Nazaré. O valor a investir é, com certeza, muito baixo.

          Formalizar empréstimo apoio à Economia Local no montante de 33 milhões de euros, correspondente ao valor em dívida há mais de 90 dias do Município.

         Pelo exposto, e com o conhecimento e aprovação dos deputados que o votaram, este empréstimo, nas condições referidas, vai hipotecar o futuro da Nazaré por muitas décadas.

        Já há muito tempo vínhamos referindo isso e avisando que o caminho que o executivo municipal estava a seguir era a melhor forma de nos mergulhar e manter para lá do fundo. O sr. presidente da Câmara sempre foi iludindo os mais incautos, e os que cegamente, ou não, o têm apoiado, refutando essa ideia de catastrofismo que, no entanto, está agora à vista de todos.

      Referimos, para que aqui conste, a SITUAÇÃO FINANCEIRA ACTUAL.

      Em 31 de Dezembro de 2011, o Município apresentava um passivo financeiro na ordem dos 54,1 milhões de euros. Não obstante, importará notar que a dívida sem o efeito dos acréscimos e diferimentos que não são dívida efectiva (na medida em que englobam 11,3 milhões de euros de proveitos a reconhecer relativos a subsídios ao investimento), totaliza 42,7 milhões de euros. No primeiro semestre de 2012 o valor do passivo financeiro tinha evoluído ligeiramente sobretudo nas Dívidas a terceiros de curto-prazo.

    Como se vê o valor do passivo apresentado, com as ressalvas referidas, é já de 55,1 milhões de euros. Não nos espantaria se se verificar dentro de pouco tempo que ele ultrapasse os 60 milhões de euros.

     Por tudo isto, ainda que se compreenda a necessidade de dinheiro e a falta que ele faz nos cofres da autarquia, não pode a CDU concordar com este acordo/programa apresentado, pois o mesmo penaliza demasiado os mesmos de sempre. O povo trabalhador, os reformados e pensionistas e todos aqueles que nunca contribuíram para a eleição destes autarcas.

    Entende ainda a CDU, que este é um mau acordo para os Municípios porque, no essencial, são acolhidas todas as orientações governamentais nas matérias em questão e que visam, de facto, concretizar a contra-reforma para a liquidação do Poder Local Democrático. Na prática, quase sem contrapartidas significativas, abandona-se a defesa da autonomia económica, financeira, administrativa e até política do Poder Local, autonomia essa consagrada constitucionalmente, duramente obtida ao longo de décadas de afirmação do municipalismo democrático e que, globalmente, levou a um enorme salto qualitativo na qualidade e condições de vida dos portugueses.
   Este pomposamente denominado Programa de Apoio à Economia Local é, globalmente, uma falácia e uma operação de propaganda:
    Os 1.000 milhões de euros que o Governo vai “emprestar” aos Municípios, correspondem a verbas retiradas nos últimos anos ao Poder Local e já têm destino definido:
1)    - Pagar parte da dívida a esses buracos há muito preparados que são os sistemas multimunicipais das Águas de Portugal, antecâmara da privatização do sector;
2)    - Pagar dívida ao próprio Estado (p.ex., ADSE);
3)    - Pagar empréstimos bancários, nalguns casos agravando as condições, de modo a beneficiar e financiar, mais uma vez, os bancos.

        As condições, para os Municípios que foram obrigados a aderir, são draconianas: taxa de juro superior à que o Estado paga, perda completa de autonomia para determinar impostos, taxas, tarifas e preços que subirão para os máximos legais, tutela financeira e administrativa por parte do Governo e de outros serviços da administração central, entre muitas outras.

      Quanto muito a economia local receberá valores residuais sem impacto sequer na defesa do emprego e na dinâmica económica e sofrerá, e muito, com a subida de todos os custos municipais a que está sujeita. Resultará, sem dúvida, o inverso do anunciado: mais dificuldades para as pessoas e para as famílias, maior afundamento da economia local!

        Foi a isto que chegámos e foi isto que alguns dos srs. deputados aprovaram aqui hoje.
           
      Não é isto necessariamente que entendemos ser a política certa a favor das populações e não é assim que entendemos que se defendem as nossas populações. Por isso não nos sentimos antes, nem no futuro, responsáveis por este anunciado descalabro.

      Para além de tudo isto, o que é que nos garante que esses dinheiros serão encaminhados a quem de direito. A falta de confiança neste executivo permite-nos duvidar da sua própria conduta e idoneidade, visto que, até pelos últimos acontecimentos sobre a privatização do abastecimento público das águas da Nazaré, verificamos que insiste em onerar a população com custos altíssimos para o resto da vida. Por tudo isto só temos que duvidar de tudo e de todos os que compõem este executivo. E parece que não somos só nós. Vejam o que se diz nas Reservas, Parecer e Ênfase, emitido pelo Revisor Oficial de Contas (ROC), recebido, agora mesmo, antes desta Assembleia Municipal. Para que fique registado, vou lê-lo:

“ Reservas   

6.1 - As demonstrações financeiras do exercício de 2011 foram revistas por outros revisores, tendo sido emitida a Certificação Legal das Contas com data de 26 de abril de 2012, a qual continha dez reservas e conduzido a escusa de opinião. A informação histórica e as previsões apresentadas poderão estar influenciadas pelas reservas constantes da referida Certificação Legal das Contas.
             
6.2 - A lista de pagamentos em atraso prevista no Quadro VI do anexo I do Programa I do Programa de Apoio à Economia Local (PAEL), no montante de 33.137.974,73 euros excede em 4.397.333,85 euros a lista das dívidas do município registada, a título de pagamentos em atraso, no Sistema Integrado de Informações da Administração Local (SIIAL). Não obtivemos a reconciliação nem justificação para a referida diferença.

6.3 - A lista de pagamentos em atraso prevista no Quadro VI do anexo I do Programa I do Programa de Apoio à Economia Local (PAEL), Inclui faturas no montante de 9.175.853,18 euros que se encontram liquidadas através de créditos efectuados pelos fornecedores a favor de instituições bancárias.

6.4 – A referida lista inclui ainda faturas em duplicado, faturas que já se encontram pagas e faturas não registadas na contabilidade, no montante de 669.973,89 euros e 614.767,59, respectivamente.

  PARECER

7 – Com base no trabalho efectuado, o qual foi executado tendo em vista a obtenção de um nível de segurança moderado, nada chegou ao nosso conhecimento, exceto quanto aos efeitos das situações referidas nos parágrafos 6.2 a 6.4 acima e dos ajustamentos que poderiam revelar-se necessários quase não existe a limitação descrita no parágrafo 6.1, que nos leve a concluir que:

       - a informação financeira histórica não tenha sido apropriadamente extraída das demonstrações financeiras aprovadas pelos órgãos sociais do município;

    - a informação financeira previsional não tenha sido preparada e apresentada com base em pressupostos apropriados e fiáveis e de forma consistente com as políticas e princípios contabilísticos geralmente adotados pela entidade.

       - a lista das dívidas dos pagamentos em atraso, com referência a 31 de março de 2012, não corresponde a efectivas responsabilidades vencidas a pagar; e

    - o Plano de Ajustamento Financeiro não é, em termos gerais, sustentável do ponto de vista financeiro.

8 – Devemos contudo advertir que frequentemente os acontecimentos futuros não ocorrem da forma esperada, pelo que os resultados reais poderão vir a ser diferentes dos previstos e as variações poderão ser materialmente relevantes, podendo condicionar a sustentabilidade do plano.

ÊNFASE

9. – Sem afetar a opinião expressa no parágrafo 7, chamamos a atenção para a situação seguinte:

9.1 – A lista referida nos parágrafos 6.2 a 6.4 acima, inclui 1.731.472,07 euros que respeitam a dívidas à Segurança Social, Caixa Geral de Aposentações, DGCI e ADSE.”
  
       Um verdadeiro PAEL teria que ser aquele que lutasse pela criação de condições necessárias para que a economia local se desenvolvesse convenientemente, sendo criativos, apelando e recorrendo a estratégias adequadas de promoção da região, estimulando o investimento externo nas mais diversas áreas da nossa economia, lutando contra a privatização de sectores estratégicos tais como: a água, os transportes, os estacionamentos, os combustíveis, a electricidade, os serviços dos CTT, sectores fundamentais para as empresas e que, com a sua privatização, ficará com toda a certeza impossível atrair investimentos, encarecendo todos estes serviços. Isto sim seria uma política séria de apoio à economia local.

         Mas suspeitamos, melhor, temos a certeza, que não foi isto que foi aprovado aqui hoje pelos deputados que votaram favoravelmente este processo de liquidação do município da Nazaré para os próximos 20 anos.

          Com todo o respeito por aqueles que nos elegeram e confiaram em nós, para aqui os defender e ajudar, só nos resta votar contra a proposta apresentada.

Nazaré, 03 de Outubro de 2012
A Representação da CDU na Assembleia Municipal da Nazaré


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