2 de maio de 2012

Publicamos abaixo o discurso comemorativo do 25 de Abril, lido pelo Deputado Municipal da CDU durante a sessão da Assembleia Municipal de 26 de Abril de 2012.

Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal
Exmas. Sras. e Srs. Deputados Municipais
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal
Exmas. Sras. e Srs. Vereadores
Exmos. Convidados
Exmas. Sras. e Srs.

    Comemorámos, uma vez mais, com regozijo, esta data histórica para o nosso país e para o seu povo.

       É inevitável que se fale naqueles que a tornaram possível, pois foi graças a eles, aos corajosos militares de Abril, que enfrentaram sem temor o regime fascista da altura, que todos hoje podemos gritar liberdade!

       Passaram-se então 38 anos!
       Hoje festejamos essa importante data.
       Mas não estamos particularmente felizes!

       Hoje, sentimos que afinal a liberdade que nos foi oferecida pelos militares, não foi para benefício do nosso povo, tantos anos sacrificado. Hoje, os sacrifícios continuam, quiçá, de forma mais violenta. Pelo que, essa liberdade não está, a nosso ver, totalmente conseguida.

     Sabemos que os valores que perseguimos são, por uma grande parte, considerados uma utopia. No entanto, permitimo-nos continuar a acreditar em valores que consideramos cada vez mais fundamentais para a humanidade: a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

       Sentimos que é difícil falar desses valores aos portugueses, quando, neste momento, se retiram, quase diariamente, conquistas obtidas com muito esforço pelos trabalhadores e pelo povo, depois dessa manhã de Abril de 74. 

      Sentimos que é difícil falar naqueles valores aos mais de 830 mil portugueses que se encontram desempregados e sem perspectivas. Sendo que desses, 997 são, neste momento, o número conhecido de pessoas desempregadas no nosso concelho. Aqui deixamos, uma vez mais, uma palavra de solidariedade e de esperança para todos os que, no concelho da Nazaré, estão a atravessar esse mau momento de falta de trabalho. Desejamos fortemente que muito em breve possam voltar a ter um trabalho digno, estável e com futuro.
      
     Onde está Abril quando não são dadas às nossas fábricas condições para lutar em igualdade de circunstância com as indústrias dos outros países? Indústrias que têm apoios dos seus governos nos custos mais baratos de energia, combustíveis, transportes e impostos. Como poderemos alguma vez competir de igual para igual?

       Onde está Abril quando temos necessidade de apoio médico e medicamentoso através do Serviço Nacional de Saúde? Como podem estar a ser pedidos tantos esforços ao povo também nesta área, onde já quase tudo se paga? Querem levar-nos a ter que recorrer aos grandes grupos particulares que já abundam na área da saúde, e que estão a ganhar fortunas à custa da falta de saúde dos portugueses! É necessário que se continue a lutar fortemente pela defesa de um Serviço Nacional de Saúde ao serviço dos portugueses.   

       Onde está Abril quando clamamos por justiça?

    Será que temos que esperar muito mais tempo por uma justiça com igualdade de direitos para ricos e pobres? Atualmente, quem pode pagar, tem, quase sempre, a possibilidade de não vir a ser condenado. Ao invés dos mais pobres, que, quase sempre, são rapidamente julgados e sentenciados.       

       Onde está Abril?    Onde está Abril?

     Os militares fizeram o 25 de Abril para dar a liberdade ao povo! Nós, e as futuras gerações, somos os herdeiros dessa revolução! Teremos que ser também nós, todos, a combater contra os poderes exorbitantes dos novos “senhores do planeta”: os mercados financeiros, as grandes multinacionais, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE), a União Europeia (UE) a Organização Mundial do Comércio (OMC), entre outros.


       Sente-se que os povos estão no limite da sua paciência com as actuais políticas ditadas e comandadas pelos chamados mercados financeiros, que outra coisa não são do que fantoches do capitalismo.    

   À conta das suas investidas capitalistas pelos países soberanos, verificamos que poucos irão ter capacidade de resistir sem ter que pedir ajuda exatamente a quem provocou esses cataclismos. Nunca as troikas mercantilistas, ao serviço dos grandes grupos financeiros mundiais, deixarão de perseguir os pequenos e mais fragilizados países, até conseguirem a sua submissão. Os seus truques, mais do que conhecidos, levam ao empréstimo de grandes verbas, que apenas servem para que, a partir do momento em que se receba esse empréstimo, não mais se deixem de pagar juros de valores astronómicos que inviabilizam por completo a recuperação económica e financeira dos países, na maior parte das vezes já asfixiados pelo roubo, ou pela venda antecipada das suas mais-valias, calhando aos trabalhadores e ao povo a maior dose de esforço no pagamento dos erros dos seus governantes.

       Sente-se isto também por cá, pela nossa terra.

       A Nazaré é o espelho do que acabei de descrever. Também caminha de empréstimo em empréstimo, até à bancarrota final.

   Os demasiados anos na (des)governação do executivo municipal, liderado pela mesma pessoa, levou-nos até esta vergonha que é estarmos dependentes de empréstimos de terceiros, sabe-se lá a que preço, para poder sobreviver mais um dia.
       Já quase tudo se vendeu! Já quase nada mais tem valor que chegue para suportar a enorme dívida!
  
      Também a Nazaré precisa urgentemente que se cumpra o 25 de Abril!

       A nossa terra e o seu povo estão habituados às tormentas, têm por isso condições e capacidades para sobreviver a mais este temporal! E nós queremos ajudar a essa sobrevivência, exatamente porque acreditamos no valor dos Nazarenos!

     Há que apostar fortemente nas coisas que sabemos fazer bem! 
       Tem que se falar abertamente e sem rodeios com todos os intervenientes na nossa área empresarial e industrial e tentar rapidamente assumir um compromisso com todos os Nazarenos. Temos que nos ajudar mutuamente sem concorrermos contra nós próprios. Não devemos, por pura ganância, afugentar quem nos visita e apenas quer partilhar connosco a nossa terra e os nossos costumes.

       A Nazaré chega para todos!

      Devemos desenvolver ao máximo as coisas que temos e as que sabemos fazer bem, tais como: o turismo, a pesca, a agricultura, a indústria, o comércio, o mar enquanto local de desporto e lazer, as belezas naturais, os nossos monumentos, a zona histórica, a nossa cultura, etc.

    Poderemos não ter dinheiro! – É uma verdade que infelizmente nos vai acompanhar durante muitos mais anos! – No entanto, isso só deverá fazer com que tenhamos mais engenho e arte para poder ultrapassar essa fatalidade.

       Não será pelas dificuldades em que nos colocaram, que não devemos continuar a lutar pelas coisas que fazem mais falta na nossa terra. Falo, por exemplo, do novo edifício do Centro de Saúde. A população local e os turistas não podem continuar a ser atendidos naquele edifício pré-fabricado com 30 anos e sem condições. Devemos todos continuar a exigir ao governo a rápida construção de um novo edifício para albergar os serviços de saúde na Nazaré.

   Devemos também, todos nós, olhar para as nossas colectividades enquanto polos dinamizadores de projectos e vontades populares, que devem ser apoiados. Não apoiar essas associações e instituições é amputar uma parte importante do nosso património humano e das nossas raízes culturais.
      Hoje, mais do que nunca, as colectividades têm, entre outras, uma importante palavra a dizer no que respeita à ajuda a causas sociais, sobrevivência e direitos humanos. A Nazaré não é, infelizmente, exceção à fome que já hoje grassa pelo país.
Sem medo das palavras, há que assumi-lo com frontalidade! Há que pedir ajuda para ser ajudado! Ninguém precisa apenas de caridadezinha. É preciso ajuda concreta. É preciso matar a fome! Pedir ajuda, nestes tempos, não pode, ser vergonha para ninguém!

       Onde está o 25 de Abril?
     Ele continua adiado! Caberá a todos nós lutar para fazê-lo renascer!


       Enquanto tivermos forças para lutar, seguiremos em frente, na procura dos caminhos da solidariedade e do desenvolvimento humano que pretendemos para o nosso país e para a nossa terra, sempre na busca de uma sociedade mais justa e igualitária, onde um homem não possa ser explorado por outro homem.
       Foi sempre assim feita, e assim continuará no futuro, a luta dos militantes e simpatizantes do PCP e da CDU, na procura de um Portugal melhor para todos.

       Por isso, hoje, sentimos ainda mais necessidade de gritar.

       A Luta Continua!

       Viva o verdadeiro 25 de Abril!
Viva o Concelho da Nazaré!
Viva Portugal!

Nazaré, 26 de Abril de 2012

A Representação da CDU na Assembleia Municipal da Nazaré 

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