Deixamos aqui o discurso proferido pelo nosso representante na Sessão Solene Comemorativa dos 36 anos do 25 de Abril de 1974.
Na comemoração dos 36 anos do 25 de Abril de 74, lembramos e agradecemos uma vez mais aos militares que fizeram a revolução, e nos entregaram a liberdade porque tantos e tantos portugueses também lutaram durante muitos anos, pagando muitos deles com a própria vida o custo dessa luta contra um regime que nos impingiu o fado, o futebol e Fátima, como únicas coisas a que podíamos ter acesso ilimitado.
No entanto, trinta e seis anos depois dessa histórica data, as lutas terão necessariamente que ser outras. Porque o Portugal que então herdámos, não é o que queremos passar aos nossos filhos e netos! Sentimos que ainda há muito por fazer!
Celebramos este aniversário da Revolução de Abril num contexto de brutal agravamento das condições de vida dos trabalhadores e do povo.
Aquilo que nós temos hoje no nosso país é ainda um resto do passado, encapuzado com as novas vestes partidárias de alguns, – quase sempre os mesmos – que nos têm (des)governado, mas em muitos casos se têm governado, a eles e aos seus amigos, como há muito se suspeitava e ultimamente se tem conhecido. Para estes não há dificuldades de qualquer espécie, como não havia no outro tempo para os outros! Vivem num país pobre e de pobres, mas à rica!
Para cumprir Abril, é preciso também cumprir definitivamente o lema, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Três coisas fundamentais e que urge fazer cumprir na sua plenitude. Algumas sentimos que foram atingidas, ainda que por vezes se sintam ataques à sua manutenção. Talvez neste nosso tempo de dificuldades gerais, seja mesmo precisa, muita Fraternidade entre todos, para podermos ajudar-nos mutuamente.
Lembramos que no Programa do Movimento das Forças Armadas, elaborado logo após o 25 de Abril de 74, falava-se, entre outros, em três objectivos a atingir, Democratizar, Descolonizar e Desenvolver (3 Dês). Será que tais objectivos foram atingidos na totalidade? Cremos que não!
Ainda não concretizados totalmente, todos os objectivos daqueles três dês, e eis que nos aparecem outros dês. Os dês do Desemprego, das Desigualdades, da Dependência e das Dívidas.
Para cumprir Abril, é preciso travar urgentemente estes novos Dês!
Flagelo dos nossos dias, o desemprego, em que actualmente cerca de seiscentos mil portugueses se encontram colocados. Originado por milhares de falências que continuam a ocorrer diariamente, há já tempo demais, provocadas por um descalabro financeiro que não parece ter fim.
A falta de respeito e a honestidade em honrar os compromissos fizeram com que as dívidas imensas, de todos para com todos, formassem uma bola de neve que ninguém parece conseguir parar.
Dirão muitos que é assim em todo o mundo, que todos estão a sentir esse problema financeiro!
Pois é! Mas nós sentimos mais devido ao atraso que trazemos do passado, pois em muitas áreas não estamos, nem vamos, conseguir recuperar. É por isso mais fácil fechar empresas, como se tem visto, e colocar no desemprego milhares de trabalhadores por este país fora. Isso para patrões sem escrúpulos é hoje muito fácil, logo que lhes faltam os lucros a que estão habituados.
Isto não é cumprir Abril!
Para cumprir Abril, é preciso diminuir, ou acabar, com as desigualdades sociais actualmente existentes, pois que essas diferenças colossais provocam o desespero financeiro de milhares de famílias, apenas ligeiramente aliviadas pelos subsídios em dinheiro atribuídos pelo estado, ou por géneros oferecidos por algumas outras entidades, para aliviar a fome que existe hoje em muitos lares deste país.
Não podemos dizer que há justiça social no nosso país quando os mais pobres estão cada vez mais pobres e dependentes, e os ricos estão cada vez mais ricos e poderosos. São mais de dois milhões de pobres assumidos. Seremos a breve trecho um país de dependentes, tal como o próprio país já o é, em muitos casos.
Isto não é cumprir Abril!
Para cumprir Abril, é preciso continuar a demonstrar que a revolução não foi apenas um sonho. Existe de facto concretização efectuada, talvez por isso se assista hoje a ataques continuados a algumas dessas concretizações. As conquistas de Abril são ainda hoje um incómodo a muitos que as querem por vezes ultrapassar. Temos por exemplo a Constituição da República, que continua a ser um travão a abusos, e, talvez por isso, se assista a algumas intentonas perpetradas pelos partidos da direita e pelas políticas por eles defendidas, no sentido de a vir a alterar a seu bel-prazer. O povo português saberá no entanto responder a estas tentativas e com certeza defenderá os direitos que a Constituição hoje lhes dá. O direito à saúde. O direito ao ensino. O direito ao trabalho e a um salário. O direito à reforma. O direito à greve. O direito de lutarem, e de exigirem uma vida digna e um tratamento com a mesma dignidade da parte do Estado. O direito a que o Estado desenvolva uma política de igualdade em todo o país.
Propuseram há pouco tempo ao nosso povo mais um apertar de cinto, com a aprovação do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC).
Como é que se podem pedir mais esforços ao povo trabalhador, quando eles, os governantes, não demonstram um pingo de vontade em serem eles próprios a dar o exemplo. E, pelo contrário esbanjam em pagamentos de fortunas em prémios a gestores públicos, por estes conseguirem lucros fenomenais em empresas públicas que dão obrigatoriamente lucro, em grande parte à conta de custos pagos pelos portugueses pela tabela máxima, em alguns casos os mais caros da Europa, numa tremenda exploração aos poucos rendimentos da generalidade da população.
As clientelas partidárias dos partidos dos governos habituais, e os amigos dos amigos destes, estarão contentes com mais esta apertadela que estão a dar a toda a população. Com as esperadas poupanças de 1155 milhões de euros na contenção salarial, de 715 milhões na saúde, de 1009 milhões na assistência social, nas tentativas propostas de privatização de parte da Caixa Geral de Depósitos, privatização dos CTT, da REN, da TAP e sabe-se lá que
mais. Assim, vão os já poucos anéis, os dedos, e até o resto!
No entanto, a tributação das mais-valias vale apenas 257 milhões! Querem fazer-nos crer que já nem ricos há por cá!
Ontem como hoje, em algum tempo, as sementes de Abril voltarão a frutificar, tendo como sempre, a luta de massas como força principal e essencial.
Vamos esperar a poeira das desgraças assentar, e acreditar que os ventos do lado da Grécia não se levantem para o nosso lado, como alguns já vaticinam.
Como invariavelmente acontece nestes casos, se as coisas não estão bem no país, por cá pela Nazaré, também não estão melhor!
Sabemos da dívida enorme do município e das dificuldades em a fazer diminuir.
Sabemos das promessas que se fizeram, aquando da última eleição autárquica.
Sabemos dos empregos prometidos.
Sabemos das obras prometidas. Nazaré XXI, marina, campos de golfe, Hospital Israelita, recifes artificiais, teleférico, centros escolares, área de localização empresarial, etc, etc.
Queremos acreditar que a tão falada crise financeira, não vá servir para atrasar, ou mesmo anular, estas e outras obras que estão programadas para o nosso concelho.
Estamos e estaremos na primeira linha da luta pela qualidade de vida da população e não hesitaremos, como já demonstrámos, em defender também o nosso ambiente, quando sentirmos que lhe exista ameaça ou tentativa de uso indevido para proveito pessoal ou empresarial.
Lembramos também aqui, uma obra de primeira necessidade para a população e para a qual a CDU e o PCP da Nazaré, têm dado alguma visibilidade e transmitido à população o sentido da luta que é preciso todos desenvolverem para que seja edificado um novo Centro de Saúde na Nazaré.
Sabemos agora e congratulamo-nos com o facto de ter sido desbloqueado o processo para a construção desta importante obra a breve prazo.
No entanto, alertamos que estaremos vigilantes, para que não se volte atrás com as palavras dadas e as promessas feitas.
Estaremos também disponíveis para desencadear tudo o que for preciso no sentido de ajudar no processo de entendimento que se pretende, entre as forças vivas do concelho, para instalação provisória daqueles serviços noutro local enquanto se concretize a tão necessária obra.
Este é o sentido de união que deve existir entre as forças políticas da nossa terra, em prol de toda a população.
Temos que começar urgentemente a remar todos para o mesmo lado!
O interesse na nossa terra e no futuro dos nossos filhos está naquilo que nós formos capazes de fazer agora. Não devemos nem podemos perder mais tempo! É necessário e urgente que se arregacem as mangas!
Para terminar não podemos deixar de lembrar os quase 900 desempregados do nosso concelho, inscritos actualmente nos centros de emprego. Para esses que atravessam por certo dificuldades, queremos deixar aqui uma palavra de solidariedade e desejar que tão cedo quanto possível voltem a ter um trabalho digno e com segurança de futuro.
A CDU e o PCP saúdam todos os democratas do nosso concelho, e lembram os que sempre lutaram e continuarão a lutar pela “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Será sempre este, o nosso 25 de Abril!
Viva o 25 de Abril!
Viva a Nazaré!
Viva Portugal!
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